Com o fechamento da safra comercial 2023/2024, o Brasil confirmou a posição como maior exportador global de algodão, pela primeira vez na história, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). No entanto, o cultivo enfrenta uma crise silenciosa: as mudanças climáticas. Com eventos extremos se intensificando, os cotonicultores precisam conciliar tecnologia, manejo adaptativo e resiliência econômica.
O Cerrado, berço de 70% da produção nacional de algodão, enfrenta um desafio climático sem precedentes. Com temperaturas em ascensão e umidade relativa do ar em queda, a cotonicultura necessita se reinventar para manter sua produtividade e rentabilidade.
Os três pilares da resiliência
Segundo Cornélio Alberto Zolin, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, a adaptação das fazendas algodoeiras na região do Cerrado deve se basear em três eixos principais: melhoramento genético, manejo do solo e análise de risco climático.
- Melhoramento Genético: O pesquisador destaca a necessidade de desenvolver variedades de algodão menos suscetíveis ao aumento das temperaturas. “A fisiologia da planta precisa ser ajustada para suportar o calor, especialmente durante o período noturno, quando o algodão é mais sensível”, explica.
- Manejo do Solo: A melhoria do perfil físico do solo é crucial. “Aumentar a cobertura do solo, a infiltração e a retenção de água, além do estoque de carbono, são ações que fortalecem a resiliência da lavoura”.
- Análise de Risco Climático: O Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (ZARC) é apontado como uma ferramenta essencial. “O ZARC ajuda os produtores a gerenciarem melhor os riscos, orientando sobre melhores épocas de plantio e colheita mais adequadas”.
Projeções preocupantes
Ainda de acordo com o pesquisador, dados compilados pela Embrapa mostram que, desde 1961, as temperaturas no Cerrado aumentaram entre 2°C e 4°C, enquanto a umidade relativa do ar caiu 15%. “As projeções indicam que esse cenário pode piorar, com temperaturas mínimas, médias e máximas continuando a subir”, alerta
Para o algodão, isso significa um cenário de estresse térmico ainda maior. Ele explica que “a cultura necessita de noites mais frescas para se desenvolver adequadamente. Se as temperaturas noturnas continuarem a subir, a produção e a qualidade das fibras serão severamente impactadas”.
Ferramentas para enfrentar o clima
Diante da impossibilidade de controlar o clima, Zolin recomenda investir em sistemas de monitoramento agrometeorológico. “Estações meteorológicas, satélites e redes de coleta de dados são fundamentais para prever flutuações climáticas e tomar decisões assertivas”.
Além disso, ele reforça a importância do desenvolvimento de novas variedades de algodão. “Investir em pesquisas para identificar plantas mais resistentes à seca e ao calor é vital. Essas variedades, aliadas ao manejo adequado do solo e ao uso do ZARC, são a chave para a sustentabilidade da cotonicultura”, destaca.
O futuro do algodão no Cerrado depende da integração entre ciência, tecnologia e políticas públicas. “Ações isoladas não serão suficientes. Precisamos de um esforço conjunto para fortalecer programas como o ZARC e garantir que os produtores tenham acesso às melhores ferramentas e variedades disponíveis”, conclui Zolin.
Manejo integrado e tecnologias inteligentes

O aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas estão acelerando o ciclo de vida de pragas como o bicudo-do-algodoeiro e a mosca-branca, o que exige um monitoramento mais rigoroso. “O uso de drones, sensores e armadilhas automáticas permite o acompanhamento em tempo real das lavouras, identificando surtos de pragas com precisão e agilidade”, esclarece Odair Aparecido Fernandes, professor de Entomologia e especialista em Manejo Integrado de Pragas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Além disso, o controle biológico ganha destaque. “Inimigos naturais das pragas, como parasitoides e predadores, são essenciais para reduzir a dependência de defensivos químicos. No entanto, é preciso ajustar as estratégias de liberação e aplicação conforme as condições climáticas, especialmente em períodos quentes e secos”.
A rotação de culturas e o plantio direto também são fundamentais. “Essas práticas quebram o ciclo de pragas e doenças, melhoram a saúde do solo e reduzem a necessidade de insumos químicos”, afirma Fernandes.
Técnicas conservacionistas e agricultura regenerativa
No Cerrado, as técnicas conservacionistas são aliadas no enfrentamento das mudanças climáticas. O plantio direto, por exemplo, protege o solo da erosão, aumenta a infiltração de água e mantém a umidade por mais tempo. “A palhada deixada pela cultura anterior é uma barreira natural contra o calor e a seca”, explica o professor.
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) também é uma estratégia promissora. Para ele, “ao combinar agricultura, pecuária e florestas, o produtor diversifica suas fontes de renda, melhora a saúde do solo e contribui para a captura de carbono.”
A agricultura regenerativa, que busca restaurar ecossistemas agrícolas, também ganha espaço. “Práticas como o uso de cobertura vegetal permanente e o aumento da biodiversidade não só protegem o solo, mas também sequestram carbono, mitigando os efeitos das mudanças climáticas”, completa.
Inovações tecnológicas e certificações

Para manter a competitividade no mercado internacional, o algodão brasileiro aposta em variedades geneticamente melhoradas. “Essas cultivares são mais resistentes ao estresse hídrico e ao ataque de pragas, garantindo produtividade mesmo em condições adversas”, afirma Fernandes.
As tecnologias digitais também são parceiras. “Sensores, drones e softwares de gestão agrícola permitem o monitoramento preciso da lavoura, otimizando o uso de água, fertilizantes e defensivos”, destaca.
Além disso, as certificações socioambientais, como a Better Cotton Initiative (BCI), são um diferencial. “Essas certificações garantem práticas responsáveis e transparentes, atendendo às demandas dos mercados internacionais por sustentabilidade”, conclui o especialista.
Orientação da Amipa
Segundo Lício Augusto Pena de Sairre, diretor-executivo da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), o veranico de 40 dias sem chuvas nos meses de fevereiro e março pegou muitos produtores de surpresa em Minas Gerais. “Sabíamos que 2025 seria um ano desafiador, mas não esperávamos um período tão prolongado de seca. Isso impactou diretamente as lavouras de sequeiro, resultando em quedas na produtividade”, relata.
Entre os principais efeitos observados estão ciclos mais curtos, abortamento de botões florais e maçãs menores. Para ele, “esses fatores reduzem a carga produtiva das plantas, comprometendo o potencial de colheita”.
Estratégias para aumentar a resiliência
Apesar dos desafios, a Amipa tem orientado os cotonicultores associados a adotarem práticas que minimizam os impactos climáticos. “Variedades mais resistentes à seca, plantio direto e o aumento dos níveis de matéria orgânica no solo são algumas das estratégias que preconizamos”.
A cotonicultura mineira segue resiliente, graças à adoção de práticas sustentáveis e ao apoio de instituições como a Amipa. “Estamos comprometidos em garantir que os produtores tenham acesso às melhores tecnologias e conhecimentos para enfrentar os desafios do clima”, afirma Lício.
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