Durante décadas, o algodão fez parte da rotina das famílias do Norte de Minas em cidades como Catuti, Mato Verde e redondezas. Era a cultura que garantia renda, emprego e movimentava a economia local, especialmente entre os pequenos produtores. Mas o cenário mudou bruscamente, no final dos anos noventa, quando o bicudo-do-algodoeiro chegou silenciosamente às lavouras e, pouco a pouco, devastou a produção e obrigou agricultores a abandonarem a atividade.
O que antes ocupava cerca de 130 mil hectares encolheu a números quase simbólicos. Muitos cotonicultores migraram para outras culturas ou se voltaram à pecuária, e o algodão parecia fadado a ficar apenas na memória das gerações mais velhas.
Hoje o algodão brasileiro vive uma fase de evolução técnica e de escalada: a safra 2024/25 é estimada em torno de 4,11 milhões de toneladas de algodão em pluma, segundo levantamentos do setor e do acompanhamento oficial da safra. Em Minas Gerais, por meio do trabalho da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), do apoio do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) e da transferência de tecnologias, a produtividade média elevou a patamares de 2.045 kg/ha na safra 2022/23, o que explica por que unidades familiares bem assistidas no Norte do estado também registraram rendimentos próximos às médias nacionais.

De acordo com Licio Augusto Pena de Sairre, diretor executivo Amipa, o sistema de irrigação de salvamento implantado pela entidade com apoio do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura no Estado de Minas Gerais (Fundo Algominas) – que consistia na instalação de tanques escavados e kits de irrigação por gotejamento em propriedades de pequenos produtores associados, previamente selecionados por critérios técnicos – foi uma virada de chave para melhorar a produção familiar. “Até então, tínhamos produtividades baixas devido à seca severa. Mostramos que a água, mesmo pouca, poderia salvar a lavoura. O ganho foi expressivo, com aumento de 300% na produtividade em relação à média da região. A partir disso, os agricultores acreditaram novamente e passaram a investir por conta própria”.
Foi o início da reviravolta. Somado ao avanço da biotecnologia, com sementes adaptadas à seca e resistentes a pragas, o algodão voltou a despontar como uma alternativa viável e rentável. E, acima de tudo, voltou a despertar o entusiasmo dos agricultores familiares.
O sonho do CEDITAC ganha forma

Em maio de 2025, um marco histórico: a inauguração do Centro de Difusão de Tecnologia Algodoeira de Catuti (CEDITAC), instalado no município. Mais do que uma usina de beneficiamento, o espaço representa o reencontro da região com sua vocação agrícola. “Entendemos o CEDITAC como um espaço multiuso”, explica Feliciano Nogueira de Oliveira, coordenador do Proalminas. “Ele abriga o escritório da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti (Coopercat), salas para capacitação, galpão de oficina mecânica, a casa de um técnico e, claro, a usina de beneficiamento, com balança para pesagem de caminhões. É uma nova oportunidade para restabelecer a cultura do algodão, especialmente para agricultores familiares”.
Ainda em fase de ajustes, a usina já beneficia algodão de diferentes produtores. “Os resultados iniciais mostram grande potencial de ganhos em logística, qualidade da pluma e, consequentemente, melhores condições de mercado”, completa Nogueira.
O projeto é resultado de uma parceria entre a Amipa, Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Agência Brasileira de Cooperação (ABC), Coopercat, Prefeitura de Catuti, Fundo Algominas/Proalminas, Emater MG, Governo de Minas Gerais, Embrapa Algodão, Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Vozes do campo
Para quem está no dia a dia das lavouras, o impacto do CEDITAC é palpável. José Tibúrcio de Carvalho Filho, gerente técnico e comercial da Coopercat, fala com entusiasmo sobre a conquista: “O CEDITAC é uma vitória para a região. Temos pequenos agricultores produzindo acima de 400 arrobas por hectare, superando as médias nacionais. A usina vem coroar todo esse processo de evolução. Vai dar um start para desenvolver tecnologia, garantir renda às famílias e, o mais importante, mostrar aos jovens que é possível ter futuro no campo”.
Ele lembra que há poucos anos a realidade era bem diferente. “Era uma agricultura praticamente sem tecnologia, com colheita manual. Hoje já contamos com drones para pulverização, máquinas adaptadas e, com o CEDITAC, temos condições de fazer um trabalho de ponta a ponta. É o início de um novo ciclo”.
Construção coletiva e legado
“O CEDITAC foi concebido a várias mãos”, resume Licio. “É resultado de duas décadas de planejamento estratégico, em que fomos superando gargalos, um a um: primeiro a irrigação, depois o combate ao bicudo, a assistência técnica, e agora o beneficiamento. O próximo desafio é a mecanização da colheita. Estamos avançando com protótipos e estudando a viabilidade de máquinas adaptadas para pequenas áreas”.
Esse olhar para frente é reforçado por José Tibúrcio: “O que estamos sacramentando hoje é o trabalho de 45 anos. Pensamos não apenas nos produtores de agora, mas nos sucessores. Queremos evitar que jovens precisem migrar para buscar emprego em outras regiões. O CEDITAC abre caminho para que eles encontrem no agro uma oportunidade de vida digna, sustentável e inovadora”.
Um divisor de águas
O algodão volta a florescer no Norte de Minas, não apenas como lavoura, mas como símbolo de resiliência, inovação e união. A tradição, que parecia condenada ao esquecimento, ganha novo fôlego com o CEDITAC, que reúne tecnologia, capacitação e a força da agricultura familiar.
Para Feliciano, o impacto vai muito além do beneficiamento: “Esperamos maior motivação dos produtores em cultivar o algodão, o que dinamiza a economia local, gera postos de trabalho e aquece comércio e serviços”.
Em um território marcado pela seca e pelos desafios do semiárido, o algodão reaparece como fio condutor de esperança. Agora, transformado por tecnologia e parcerias institucionais, promete costurar um futuro de renda, oportunidades e sucessão rural para centenas de famílias do Norte de Minas.
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